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Deixar registrado aqui essa fase da minha vida. Difícil, talvez a pior, mas como tal já passou. Conheço meu inimigo, portanto nunca subestimo o Câncer. Esse mal é traiçoeiro, e como!!! Não valorizo a sua passagem muito menos o seu fantasma. Não deixo de viver um dia sequer, grata a Deus que me concebe, feliz por ser a mulher forte que sou. Ando com Fé, e bola pra frente. A vida não para e eu também não.

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25 de julho de 2013

A soma e o resto: OS QUE ESTÃO VIVOS E OS MORTOS

 
A soma e o resto: um olhar sobre a vida aos 80 anos
 


No fundo estamos condenados ao mistério.
As pessoas dizem, eu gostaria de sobreviver além da minha materialidade...
Eu não acredito que vá sobreviver mas, pelo menos na memória dos outros, você sobrevive.
Vivi intensamente isso com a perda da Ruth. Olhando para trás, é claro que ela estava com um problema grave de saúde.
Apesar disso fizemos uma viagem longa e fascinante à China. É como se o problema não existisse.
A gente sabe que um dia vai morrer e no entanto vive como se fosse eterno.
Depois da morte de Ruth e, mais recentemente, de outros amigos, como Juarez Brandão Lopes e Paulo Renato, eu me habituei a conversar com os que morreram. Não estou delirando. Os mortos queridos estão vivos dentro da gente. A memória que temos deles é real.
À medida que vamos ficando mais velhos, convivemos cada vez mais com a memória.
Conversamos com os mortos. Por intermédio da Ruth, passei a lembrar mais dos outros que morreram, dos meus pais, meus avós.
Os que morreram e nos foram queridos continuam a nos influenciar. O que não há mais é o contrário. Não podemos mais influenciá-los.
Eu não penso na morte. Sei que ela vem. Já senti a morte de perto. Não em mim. Senti a morte de perto nos meus.
E procuro conviver com ela através da memória. Os que se foram continuam na minha memória e eu converso com eles.
Minha mãe, meu pai, minha avó, minha mulher, meu irmão, meus amigos que se foram são meus referentes íntimos.
Tudo isso constitui uma comunidade – posso usar a palavra – espiritual, que transcende o dia a dia.
Então, a morte existe, ela é parte da vida, é angustiante, não se sabe nunca quando ela vai ocorrer.
Eu só peço que ela seja indolor. Não sei  se será. Ninguém sabe como e quando vai morrer.
Pessoalmente, tenho mais medo do sofrimento que leva à morte do que da morte propriamente dita.
Se não é possível ter a pretensão utópica de sobreviver como pessoa física, é possível ter a aspiração de viver na memória, começando por conviver com a memória dos que se foram.
Isso tem alguma materialidade? Nenhuma. Isso é científico? Não é. Mas é uma maneira de você acalmar sua angústia existencial.
"Os mortos queridos vivem dentro de nós. Os que morreram continuam a nos influenciar. Nós é que não podemos mais influenciá-los."

SENTIDO DA VIDA

Aos 80 anos creio que cada um cria o sentido de sua vida. Não há um único sentido. Isso é muito dramático.
Cada um tem que tentar criar o seu sentido. Nesse ponto os existencialistas têm razão. É muito angustiante.
Tem uma dimensão da existência que é inexplicável. Ou você consegue conviver com isso no dia a dia sem apelar para a transcendência – digo no dia a dia porque, de vez em quando, todo mundo apela... – ou você tem que criar algum sentido para justificar, se não explicar, o sentido das coisas.
Eu criei, imagino que sim. Achei que devia ter uma ação intelectual para entender e para mudar o Brasil.
Na verdade é isso que eu queria, mudar as condições de vida no Brasil.
A literatura me influenciou muito, sobretudo a nordestina, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado. Depois as Vinhas da Ira, de John Steinbeck, sobre a revolta social na América da Grande Depressão.
Ou mesmo Roger Martin Du Gard com Os Thibault e, já noutra direção, André Gide e, também, a metafísica de A montanha mágica, de Thomas Mann. Esse caminho da literatura me contagiou e me levou à pol
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tica.
Passei a vida inteira tentando entender melhor a sociedade, os mecanismos que podem levar a uma sociedade mais decente, como digo hoje, não apenas mais rica, e sim mais decente.
Tem que haver, é claro, algum grau de riqueza, senão a miséria, a escassez, predomina e então não se tem nem liberdade nem igualdade. A escassez é a luta, a guerra pela sobrevivência. Tem que haver um certo bem-estar material. Além disso, porém, é preciso criar uma condição humana de dignidade, de decência, de aceitação e respeito pelo outro.
Tentei entender isso do ponto de vista intelectual e fazer a mesma coisa do ponto de vista político.
Então acho que dei um certo sentido à minha vida. Esse sentido tem que ser dado por cada um.
Não está dado que todos tenham que ter o mesmo sentido e haverá quem nunca encontre sentido na vida e fique batendo cabeça.
"Quando se vai ficando velho e, portanto, mais maduro, você tem que valorizar mais a felicidade, a amizade, essas coisas que, no começo da vida, parecem secundárias."

Essa angústia vai ser permanente. Não tem solução. É parte da condição humana.
Não sabemos de onde viemos, não sabemos para onde vamos. Tampouco sabemos por que e para que estamos aqui.
O que não podemos é deixar que essa angústia da morte e da ausência de um destino claro nos paralise.
Cada um tem que inventar sua resposta. Cada um tem que dar sentido à sua vida. Ela não tem sentido em si. Esse sentido não está dado. Cada um tem que construir o seu sentido. E vai sofrer para encontrar.
Uma resposta está no próprio convívio com os outros. Inclusive com os mortos.
Talvez isso arrefeça um pouco a angústia. Não se vive sem amizade, sem amor, sem adversidade.
Quando se vai ficando velho e, portanto, mais maduro, você tem que valorizar mais a felicidade, a amizade, essas coisas que, no começo da vida, parecem secundárias. Você continua querendo mudar o mundo, mas sabe que as pessoas contam.
Embora eu tenha sempre me definido como mais intelectual do que como político, na verdade minha vida foi muito mais dedicada ao público.
Isso vem da minha ancestralidade, da minha convivência familiar.
O sentido, para mim, sempre consistiu em buscar fazer alguma coisa que mude a situação mais ampla do que a minha própria.
Nunca fui uma pessoa voltada em primeiro lugar para alcançar o meu bem-estar. Eu tenho bem-estar.
Diria que quase sempre tive bem-estar. Mas esse não foi o meu valor.
Mesmo em termos subjetivos, a ideia de felicidade, nunca busquei com denodo a felicidade pessoal.
Eu a tive de alguma forma, nunca me senti infeliz. Eu me dediquei muito mais a ver a situação dos outros.
De uma maneira modesta, sem proclamar.
Mas levei a vida inteira pensando no mundo, pensando na sociedade, pensando nas pessoas, nos outros.
O sentido que dei à minha vida foi construir isso.
---------------------------------------
Fonte: CARDOSO, Fernando Henrique Cardoso – A soma e o resto: um olhar sobre a vida aos 80 anos -

10 comentários:

ONG ALERTA disse...

Querida nos é dada a vida e nascemos para um dia morrer, infelizmente nossa cultura nos ensina pouco sobre a morte até que bate em nossa porta e aprendemos que é apenas mais uma mudança de vida, uma mudança em nosso coração pois tudo que for por amor é eterno...
Beijo Lisette.

Cancer de Mama Mulher de Peito disse...

Lisette.

Respeito e admiração por você sempre.

Regina Rozenbaum disse...

Como continuam a nos influenciar...a mim, diariamente! Muito bacana...não conhecia!
Beijuuss Wilma

Cristina disse...

Ótima reflexão do Fernando Henrique. Verdade mesmo carregamos nossos entes que se foram dentro de nós. Muitas vezes também me pego falando com eles, uma maneira de diminuir a dor, a saudade. Sou uma mulher cristã, acredito que assim como Jesus ressuscitou eu tb ressuscitarei pós morte, mas tem dias como humana que sou sinto tb esse medo, para onde vou? Por que estou aqui? Faz parte....lidar com nossa finitude também... bjss minha querida amiga, saudades viu?

Cancer de Mama Mulher de Peito disse...

Cris, Regina.
Saudade de vcs. tb.
Dizem que saudade é o amor que fica.
Esse é um dos lados bons da vida.
A eternidade principalmente daqueles a quem temos afinidade.

chica disse...

Lindo esse texto.Gostei! Desejo um lindo fds! beijos, voltando das férias,chica

Solange disse...

Olá Wilma
Grata por visitar sempre o meu cantinho e transmitir esta força nata que existe em você.
Beijos
Sol

Angela Fonseca disse...

Oi, linda! Estive uns dias em Moeda, curtindo um frio no capricho, em paz e no convívio com a família. Tudo de bom...
Pois é, já faço reflexões sobre a morte bem antes dos oitenta. É que aos 65, recem-completados, já se tem uma dimensão das possibilidades que a vida ainda tem a nos oferecer. Muita sensação de dejà-vu, que a gente vai compensando inventando novas modas, arquitetando novos projetos, mesmo sabendo que a amiga Morte nos espreita. Como FHC, peço a Deus que seja indolor, porque também "tenho mais medo do sofrimento que vem antes da morte do que da morte propriamente dita"... Uma doença grave nos 'acorda' para a certeza da finitude, não é? Ainda bem que, de acordo com nosso sistema de crenças, temos a certeza que nada termina aqui, só o corpo, vestimenta transitória que usamos para aprender novas e necessárias lições. Um superbeijo carinhoso para você, minha querida. Angela
http://noticiasdacozinha.blogspot.com

Cancer de Mama Mulher de Peito disse...

Nada a agradecer SOL.
A força é mutua e só nós faz bem.
Bjs.

Cancer de Mama Mulher de Peito disse...

Angela
Que bom que vc esteve no seu cantinho preferido.
Baterias renovadas.
Quanto a morte agradeço muito a Deus a nossa crença na eternidade do espírito.
Esse olhar tem feito toda a diferença na maneira como vivo.
Acho que isso é o mais importante.
Outras coisas vamos deixando para quando chegar a hora.
Beijos a todos ai em BH.

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